(eter)

30 janeiro 2007

fado, o

Alfredo Marceneiro nasceu em 1891.
Começou a cantar o fado mais a sério no "14", no Largo do Rato, antiga casa de jogo transformada em cabaret, quando os jogos de azar foram proibidos, com cerca de 20 anos, fados esses cujos versos ele mesmo improvisava.

Tem na garganta um não sei quê de estranho,
Que perturba e nos faz cismar:
É dor? É medo? São visões d'antanho?
Amor? Ciúme? É choro? É gargalhar?

É voz do fado - dizem - e eu convenho
Que ande na sua voz a voz do mar,
Onde Portugal se fez tamanho
E aprendeu a cantar e a soluçar.

O Marceneiro tem aquela atroz
Sonância d'onda infrene que em rochedo
Fareja e morde, impiedosa e algoz.

É voz roufenha que nos mete medo,
Mas que atrai, que seduz... É bem a voz
Do fado rigoroso, a voz do Alfredo.

João Linhares de Barbosa

Já com oitenta e muitos anos nunca deixou de espreitar a noite, onde fez a sua carreira, mas "...com o despontar dos primeiros alvores da madrugada, Marceneiro abandonava os retiros de fado e regressava, satisfeito, para junto da sua querida "Tia Judite"..."; mesmo que ninguém o fosse buscar a casa, assim que passava um táxi logo parava e o motorista com a alegria e gosto sentido, parava o carro e dizia: "Boa-Noite "Ti Alfredo". Onde é que quer que o leve hoje?"
"Oh! Meu querido filho, ainda bem que apareceste, leva-me ao Bairro-Alto", respondia ele invariavelmente.
De madrugada a cena era a mesma. Era ver qual o taxista que encontrava o "Ti Alfredo" para o trazer a casa, sabendo de antemão que tinha de estacionar o carro e ir lá a casa comer uma canjinha, deixada pronta pela "Ti Judite" para quando ele chegasse.
Muitos motoristas de táxi, principalmente os do turno da noite, foram especialmente importantes para a sua vivência nocturna.
Alfredo Marceneiro tinha um feitio muito especial, difícil para com aqueles que não atingiam um certo patamar de perfeição, especialmente músicos, interrompendo a música, chamando-lhes nomes e mesmo indo embora.
O fadista, a quem Amália dizia: "Alfredo, tu és o fado", cantou até morrer no dia 26 de Junho de 1982.
Visitem a página da net e vejam algumas das letras, entre notas biográficas e outras.

Encostado sem brio ao balcão da
taberna
De nauseabunda cor e tábua
carcomida
O bêbado pintor a lápis desenhou
O retrato fiel duma mulher perdida

alfredo marceneiro - o bêbedo pintor

alfredo marceneiro - o marceneiro

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