(eter)

31 outubro 2007

portugal, anos 70

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Foi tudo na vida - cantor, actor, palhaço, toureiro.

Ficou conhecido pelas suas extraordinárias controvérsias e secretas histórias de amor com personalidades conhecidas do grande público.
Conta-se que Victor Espadinha nasceu num quarto na rua Garcia de Orta, à Lapa.
Não a Lapa burguesa, mas a Lapa pobre, aquela que não interessa.
A mãe era empregada doméstica; o pai, ex-mineiro da Panasqueira.
Os primeiros anos de vida foram marcados pelas privações da guerra, pelo alcoolismo da família e por uma sexualidade precoce.
Decidiu que queria ser actor quando assistiu ao magistral monólogo de João Villaret em "Esta Noite Choveu Prata".
Percorreu África e a Europa, fugiu e regressou ao país.
Até hoje, fez apenas aquilo em que acreditava, sem concessões, nem demasiadas hesitações.
Ao olhar para trás sabe que não podia ter sido de outra forma.
Quando questionado por Rui Unas, há uns anos, no Cabaret da Coxa, se já tinha comido alguma espanhola, respondeu admirado:
"Mas quem é que nunca comeu uma espanhola?!"
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26 outubro 2007

prémio saramago



o remorso de baltazar serapião
Quidnovi, Matosinhos / Lisboa, 2006

Numa Idade Média brutal e miserável, Baltazar casa com a mulher dos seus sonhos e, tal como o pai fizera antes com a mãe e com a vaca Sarga, fêmeas irmanadas em condição e estatuto familiar, leva muito a sério a administração da sua educação. Mas o senhor feudal, pondo os olhos sobre a jovem esposa, não desiste de exercer sobre ela os seus direitos. Entregue aos desmandos do poder e do destino, Baltazar será forçado a seguir por caminhos que o levarão ao encontro da bruxaria, da possessão e do remorso.Com um notável trabalho de linguagem que recria poeticamente a língua arcaica e rude do povo, o remorso de baltazar serapião, de valter hugo mãe — autor, entre outros, de o nosso reino, seleccionado pelo Diário de Notícias como um dos melhores romances portugueses de 2004 — é uma tenebrosa metáfora da violência doméstica e do poder sinistro do amor.

(texto na contracapa do livro)

23 outubro 2007

discos de sempre (I)

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curtis mayfield - pusherman
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curtis mayfield - freddie's dead
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(esperando que o Tomás, que nasceu ontem, venha a gostar, ó Maurício)

17 outubro 2007

manta curta

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Penso que Tiago Bettencourt é o melhor escritor de canções em português da actualidade.
Difícil pela língua, não tanto pelo panorama em redor.
O disco "O Jardim", que saíu dia 1 deste mês e que assina em conjunto com a banda Mantha, poderia ser a demarcação relativamente aos Toranja, mas infelizmente não é.
Infelizmente, porque - embora não desgoste de Toranja - as letras escritas pelo Tiago são boas demais para se dispersarem numa embalagem musical pouco criativa, que só existe, salvo honrosas excepções, para fazer o embrulho das letras.
Se sempre me pareceu que a música nunca chegou ao nível da letra, com mais certeza fiquei quando o ouvi cantar uma canção unplugged do novo disco na Radar.
De qualquer forma, ficam aqui alguns exemplos que me desmentem - ou confirmam -, embora espere pelo disco verdadeiramente a solo, só com uma guitarra e, vá lá, um violino, com a intensidade daí resultante.
Irá ser, ainda assim, um dos melhores discos portugueses deste ano.
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tiago bettencourt & mantha - o lugar
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tiago bettencourt & mantha - o campo
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tiago bettencourt & mantha - a praia
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08 outubro 2007

mil e uma noites


Depois da saga fermentativa, volto agora às lides da bloga, tendo de optar, por momentos, entre esta e a leitura de um livro de (tss, tss) José Rodrigues dos Santos .
Ok, admito, começou interessante, vamos ver no que dá...

Mas adiante. Após um período de trabalho intenso, o estímulo compensatório manifesta-se e os prazeres voltam a dominar as prioridades.
Já vislumbro as sedas que envolvem o recanto onde excessos carnais e etílicos se concretizam, não faltando, porém, o interesse cultural, principalmente desde que a dissociação entre ambos os prazeres foi desmistificada, numa saudosa noite em que se discutiu a prosa de Dostoievski, numa casa de má fama lá para os lados das festas das vindimas, com uma recém-profissional - conterrânea do escritor - das lides nocturnas.

Se faltou o véu nessa ocasião, faço agora votos para que na próxima ocasião essa falha não aconteça.
Para tal, e para não faltar tudo, contribuo desde já com música, pedindo a presença do grande e já falecido Mohammed Abdel Wahab.
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