(eter)

07 outubro 2006

predictions

22 comentários:

Isobel disse...

Estou em vias de o ver ;) Ando cheia de curiosidade acerca de Fritz Lang e do Murnau.
Pela amostra aqui colocada por ti, não me vou arrepender..

Anónimo disse...

do murnau só vi o "nosferatu".
tenho tentado arranjar os outros, mas é difícil.

Anónimo disse...

Não consigo ver o post, mas pelos comentários, se se fala de Fritz Lang e Murnau, é comigo !
Do Murnau tenho em VHS , além do Nosferatu também o Aurora e o Fausto (este com o texto em francês, uma vez que foi comprado em Paris).
Do Fritz Lang tenho vários. "Só vivemos uma vez", "Testamento do Dr.Mabuse", "Desengano", "M" entre outros que agora não me ocorrem (não tenho a listagem da minha videoteca comigo).
Falta-me na minha colecção o "Metropolis", um dos mais conhecidos do realizador.

São dois monstros da cinematografia alemã, uma das melhores do mundo, à semelhança de quase tudo onde os alemães se metem.
Murnau vale pela originalidade num período (mudo) em que o cinema ainda caminhava para a sua afirmação completa no contexto artístico e cultural.
Fritz Lang fez a transposição do movimento expressionista (de que Murnau é um bom exemplo) para o chamado "cinema negro". Lang popularizou-se bastante quando na sequência da grande guerra fugiu para os EUA, desenvolvendo aí grande parte da sua brilhante carreira.
"M-Matou" é indiscutivelmente a sua obra prima, e um dos mais marcantes filmes da história da sétima arte. Há em DVD na FNAC.
Outros nomes a destacar no universo dos realizadores germânicos:

Ernst Lubitsch
Otto Preminger
Eric Von Storheim
Johan Von Sternberg
Rainer Werner Fassbinder
Volker Schlondorf
Werner Herzog
Wim Wenders
etc

E é melhor parar de falar de alemães senão ainda me dá uma vontade irresistível de invadir a Polonia...
A propósito: sabem que tem os direitos de autor desta graçola ?

Anónimo disse...

lf, é precisamente de Metropolis que se fala, pois parece que vai sair uma versão digitalizada do filme.
já esperava que dissesses qq coisa; estou à espera que, num futuro contacto (quem sabe uma jantarada) me cedas umas cópias do que mencionaste.

Anónimo disse...

Ok !
Depois combinamos.

Anónimo disse...

Lamentando a impertinente intrusão, ao ver um comentário tão dedicado na sua pedagógica prelecção, achei que seria devido à sua dedicação o cuidado de assinalar eventuais lapsus letrae ou outros, e que fosse consequentemente devolvido ao Sternberg o seu primeiro nome Josef, e a Stroheim a grafia devida a seu apelido. E, enfim, no embalo de não resistir a intrometer-me mais um pouco, e não fosse toda a cinefilia blogosférica (e a sua fracção expectante neste canto) ficar cativa da resposta à instigante questão, ou quedar-se o seu cabal esclarecimento suspenso nos mistérios dos arquivos, respondamos pois: Woody Allen (cf. Manhattan Murder Mistery), isto particularmente para assinalar também que, sendo a piada originalmente formulada a propósito de Wagner (ou dos efeitos psicológicos de ouvir a sua música), empregá-la no contexto de discutir realizadores alemães (ou até só alemães, for argument's sake), particularmente de alguns desses realizadores alemães (como precisamente o Fritz Lang exilado nos EUA), demasiado familiarizados com invasões da Polónia e outras que tais, é capaz de não resultar lá muito certeiro (digamos assim)...
Bons filmes.

Anónimo disse...

sempre atento aos pormenores e grafismos, o que, diga-se, também é minha obsessão. mas quando vejo exemplos de profissionais da comunicação social, já me resigno, substituindo esta pela antiga indignação.
e é verdade, o empolgamento de ouvir wagner dará origem a certas vontades, que não as mesmas de ouvir o desfilar de nomes de cineastas alemães...

LF disse...

Julinho,

Quanto aos nomes, tem toda a razão.
A pressa de escrever, sem o devido cuidado de consultar seja o que for, dá nestas coisas.
Fica a correcção feita.

Qaunto à piada, é de facto de Alen e a propósito de Wagner, de cuja obra sou um incondicional admirador, e que foi um dos criadores artísticos que mais me fez libertar daquele complexo que hollywwood e afins nos incutem desde crianças acerca dos alemães (antes era também dos russos, e agora parece ser igualmente dos franceses), embora sem nunca me transmitir a vontade de invadir a Polónia, que é aliás um país que já tive oportunidade de visitar (estive inclusivamente em Auschwitz e em Bierkenau), e cujo povo me causou a melhor impressão possível.

LF disse...

Ou estou muito enganado, ou nota-se um certo sentimento de desconforto com a minha referência à piada de Alen.
Talvez isso suceda por se estar a falar de alguns realizadores judeus (pelo menos Stroheim e Sternberg), e outros que foram forçados ao exílio pelo regime nazi (ainda que Fritz Lang tenha chegado antes a ser convidado por Goebbels para trabalhar para o regime, o que para mim, por sí só, não constitui nenhum crime).
Para responder a isso limito-me a lembrar que também Alen é judeu. Se foi ele próprio que brincou com a situação porque não o poderemos nós fazer.

LF disse...

Já que se fala no tema, e indo um pouco mais longe, poderia dizer que a "Industria do Holocausto", promovida e meticulosamente explorada por Israel e pelo Sionismo, semeou a ideia de que tudo o que tenha a ver com o nazismo e afins deva ser assunto tabú.
Ora o que mais houve na história da humanidade foram guerras, mortes, crueldade, ódio, torturas, prisioneiros e injustiças várias. Infelizmente ainda hoje existem, algumas delas com o forte contributo daqueles que mais se queixam justamente do regime nazi.
Tiranos houve-os em todas as épocas e em muitas e diferentes regiões do globo. Talvez sem a sofisticação de meios do sec. XX, e sem imagens para testemunhar.
No Chile de Pinochet enfiavam ratazanas bebés no útero das mulheres oposicionistas, na Guerra civil de Espanha enterraram pessoas vivas, isto sem falar na crueldade das guerras do Uganda, do Ruanda, do Sudão, em Pol-Pot, etc etc e sem fugir do século XX.

A "indústria do Holocausto" serve a muita gente: Não só aos judeus, de modo a beneficiarem de um estatuto internacional de excepção e privilégio, financeiro e militar, como também aos Estados Unidos que através da NATO (criada para proteger a Europa dos seus próprios perigos e mantida depois de 1989 não se sabe porquê) reforçaram o seu poderio internacional, incrementando justamente a partir de 1945 o seu estatuto de super-potência, mesmo depois de se terem manifestado neutrais perante os crimes de Hitler, até a sua base de Pearl Harbour ter sido directamente atacada (altura em que "tiveram" que participar na guerra).
Toda esta realidade esteve e está na base da propaganda americana e judaica, que foi capaz de construir a ideia de ser o "Holocausto" algo do domínio do sobre-histórico e do sobre-humano, em relação ao qual nada há que questionar, em relação ao qual não se pode dizer uma simples piada, sem levar com toda a abundante retórica choraminguista.

Não ! Não sou neo-nazi !, não sou de extrema-direita, nem sequer sou de direita. Mas cantigas politicamente correctas elaboradas cuidadosamente a partir de estratégias propagandísticas planetárias para nos fazer chorar por umas coisas e omitir outras, evito engolir.
A última é com o 11 de Setembro, em nome do qual já morreram muito mais pessoas do que propriamente no atentado em si.

Anónimo disse...

Caros cf e lf,
de facto partilho do sentimento de frustração relativamente à incúria da generalidade dos próprios profissionais de comunicação social no domínio cultural (para nos rirmos todos com as diversas formas da sua proliferação, lembro, dentre mil coisas, uma locutora da RTP2 a anunciar um filme do Éric Rohmer, pronunciando-lhe o nome em inglês), mas precisamente por tal, a chamada de atenção para o claro que incidental equívoco nos nomes, foi apenas, ela própria, devido a crer que quando pretendemos acometer-nos em incursões por um registo mais informativo, porventura "didáctico" (como soou ser o caso), pode-se beneficiar das maiores possibilidades de intervenção e auto-correcção do pequeno universo blogosférico (precisamente porque poderá no domínio cultural assumir um papel de importância crescente, conquanto fragmentária, devido à demissão da generalidade do espaço público, rádio, televisão e jornais, da, quanto mais não seja, pluralização expositiva dos universos culturais - para não ir além do cinema, é clamorosa a falta que faz o papel que a RTP2 teve na promoção da cinefilia, digamos assim), para que tal registo seja pelo menos apreendido com a maior exactidão possível (como seria sua intenção). Dado que, naturalmente concordo e sou eu igualmente "vítima" de tal a toda a hora, a pressa deste medium (para mais numa caixa de comentários) é propensa a pequenos lapsos ortográficos ou de memória, diria que a atenção mútua (nestes casos "didácticos") pode ser o correlato desejável do excesso de "facilidade" sintética e velocidade da nossa escrita blogosférica. Só por isso meti o bedelho...

Anónimo disse...

perdão: caro "cj" (as siglas ainda são mais complicadas para nos prestarmos à argolada...)

Anónimo disse...

Caro lf,
começando pelo princípio, precisamente para não nos embrulharmos com o seu seguimento (este seu último comentário algo inflamado que agora vi): quanto à piada do Woody Allen, como naturalmente sabe, dificilmente pode escapar a um, mesmo que episódico, espectador dos seus filmes (pelo menos naqueles em que se investe como persona) que o realizador seja judeu. Pelo que se manifestei algum desconforto, obviamente não era devido a esse facto, e muitíssimo menos pretendia sugerir que teria de alguma forma sido incorrecto nesse domínio: não quis assinalar senão a questão simples e directa de me parecer resultar (não crendo, atente-se, ser essa a intenção) algo infeliz empregar-se uma piada associada à obra de um criador com sentimentos anti-semitas (o que não constitui, da minha parte, nem qualquer juízo de valor sobre a sua obra em si, não colocando em questão a apreciação da obra musical de Wagner por aquele facto; nem com a piada original do Woody Allen) no contexto de criadores que, ao inverso, sendo alemães, conheceram muitos deles antes os males do anti-semitismo (sendo tal manifesto no seu percurso, como bem ilustrou). O serem todos alemães, não os coloca todos no mesmo prato no que é o fulcro da piada: o anti-semitismo, não a nacionalidade. Claro que a nacionalidade alemã está danamente entranhada com a memória histórica do anti-semitismo, mas, como concordará, não se confundem, que é o que a transposição da piada involuntariamente (não duvido) faz (associando automaticamente alemães a anti-semitismo). Claro que percebo que a intenção não seria essa, e claro que percebo que a generalidade das piadas que fazemos, ou de que nos apropriamos, não levam em conta por vezes o possível peso das suas palavras, que o próprio tempo e a história diluem - basta pensar no quanto a nossa língua está recheada de metáforas e expressões derivadas da estratificação racial que esteve na base da edificação das sociedades modernas - logo não lhe estou a atribuir, mais uma vez, qualquer intenção daninha: existe de facto nas representações colectivas um excesso de persistente associação entre a nacionalidade alemã e o nazismo, que torna tal piada algo compreensivelmente fácil de surgir e dizer, e muitos, eu obviamente incluído, a poderíamos fazer quase inconscientemente a respeito de outra coisa qualquer, numa mesa de café ou assim. Mas, mais uma vez, em discurso escrito, com muita ou pouca repercussão, enquanto a história ainda está próxima da nossa memória, creio que também não é indevido procurar (quando nos ocorre, e foi o caso) exercer alguma vigilância sobre o nosso (nosso, colectivo) discurso: neste caso, achei que se justificava, pelo contexto, a atenção. Mas isto, sem querer fazer quaisquer leituras duplas à conta do que considero ser (e muito familiarizado estou com ele) o inevitável excesso de sentido que por vezes o nosso discurso assume relativamente às nossas intenções na sua produção, e cuja confusão tanto vem alimentando, muitas vezes a despropósito, a "polícia" do discurso e dos politicamente correctos. Portanto, não se preocupe em explanar os seus sentimentos relativamente a judaísmo, a alemães ou a polacos: nenhuma "malvadez" (wagneriana ou outra) lhe atribuo, garanto.
Pelo que explanei, espero que se perceba que, com franqueza, vou quanto ao mais passar ao lado do seu último comentário, que me parece provir de uma hiperreactividade defensiva que, para lá de transcender em todos os termos aquilo que o meu comentário pretendia assinalar (e como tal não dirigida a questões me parecesse relevante levantar neste contexto), embora tenha considerações não irrazoáveis, e certamente debatíveis noutro contexto, me parece já demasiado (desnecessariamente) inflamado para justificar seguimento analítico, pelo menos nesta instância. Espero que compreenda a minha reserva.

cj disse...

bem, penso que o excesso argumentativo se deveu ao facto de lf pressupor, pela direcção das correcções feitas, o judaísmo de julinho.
sabendo como as coisas andam, é sempre bom desfazer possíveis equívocos, mesmo usando a fleuma na argumentação, que se revelou desnecessária.
penso até que, não estando lf habituado à fina ironia que perpassa o discurso de julinho (que já conheço de outros comentários) ensimesmou alguma crítica latente quanto a uma pretensa falta de conhecimento dos terrenos que pisa, o que não é, efectivamente, verdade.
será mais uma questão de visão do fenómeno blogosférico, no caso de lf possivelmente mais desabrido e despreocupado.

Anónimo disse...

Caríssimos,

Não se trata de hiperreactiviade defensiva. Nem sequer me passou pela cabeça o judaismo de ninguém.
Simplesmente aproveitei a ocasião, em particular o facto de uma piada sobre invasões à Polónia ter causado algum desconforto, para apresentar os meus pontos de vista acerca do "Holocausto" (que de forma alguma pretendo desmentir), da exploração que dele é feita (que me parece inegável a quem esteja atento à realidade internacional do último meio século), e dos tabús que se criaram à volta do mesmo, e que só critico na medida em que não têm paralelismo noutros momentos históricos (esquecí-me por exemplo de falar de Hiroxima e Nagasaki).
Como ninguém me paga para escrever, digo apenas aquilo que me apetece. E relendo o texto seria capaz de o escrever todo novamente.
Admito que partindo da cinefilia, de Fritz Lang, talvez tenha sido pouco cuidadoso ao deixar-me ter chegado a estes temas, mas a verdade é que cheguei.
Seja como for, já disse, para já, tudo o que queria sobre isto.
Assim sendo considero o assunto morto.
Ou seja M-de Morto !
Siga o cinema !

Anónimo disse...

Não pretendo lanchar achas para a fogueira. Digo apenas isto: os argumentos do julinho não resultaram lá muito certeiros (digamos assim)...

cj disse...

lá está...não lanches...

Anónimo disse...

eh! eh! tens razão, mas estou esfomeado, ainda não jantei...

Julinho disse...

Para mim, à semelhança de lf, este assunto ("fogueira"?) estava encerrado. Já que parece que há quem queira fazer coros descartáveis na matéria, aproveito para acrescentar duas notas.

Ao ler com agrado a verve diplomática de cj, creio que me reconheço na imagem de que pode ter sobressaído a suspeita de estar contida nas minhas palavras um crítica latente à presumível menor familiariedade de lf com a temática sobre a qual se debruçou. Creio a suspeita dessa crítica já foi dissipada, mas devo reiterar que não ela nunca imbuíu as minhas palavras: não me considero "autorizado" para ajuízar e muito menos desqualificar o domínio de outrém sobre essa temática, ou virtualmente qualquer outra; e os dois equívocos eram em si insignificante e acidentais, donde, nada indicadores de um menor domínio do tema. Acho aliás mais daninho o excesso de confiança no nosso conhecimento, do que a falta do mesmo. Mas quando partilhamos conhecimento, não só nos expômos enquanto responsáveis por assumir esse papel, como também, quem o lê deve a esse papel encará-lo com seriedade. Também pela minha parte, prefiro ser corrigido, por erros tipográficos ou outros, do que ficar com equívocos colados às costas, ou passá-los a outrém: e a blogosfera exponencia esse risco. Creio que tal resultou pacífico.
Igualmente, sim, incorporo trejeitos irónicos, mas não os dirigi (nem poderia fazê-lo) para a diminuição de ninguém. Na verdade tendo a empregá-los mais como forma de discrição não confrontacional na interpelação e troca de ideias, por saber por experiência o quão facilmente se tomba na pessoalização nestes apontamentos - felizmente não foi o caso.

É por contraste com esse tom justo da conversa anterior, que devo acrescentar que é também verdade que levo certas coisas blogosféricas um pouco a sério, e só por essa razão devo, algo desavisadamente, dar atenção à tão oportuna intervenção de maumau (e espero que os cavalheiros com quem participei nesta troca me perdoem acabar agora a conspurcar o espaço de tal troca com estas palavras, que aliás se poderiam, com proveito, escusar a ler). E se é desavisado retorquir, é principalmente porque do seu discurso, devo confessar, de brilhante elaboração mimética, que em nada desmerece a nossa comum herança evolucionista, nada de substantivo desvelei senão um "desconforto" (que não será desvanecido com estas palavras, logo, inconsequentes) com o meu tom e trejeitos na retórica , e não com a substância da dita, que deve ser o que menos lhe interessa (mas pode ser que me tenha escapado o "argumento" da coisa). De qualquer forma, dando o benefício da dúvida ao seu cuidado em manifestar-se, suponho que uma resposta lhe é bem devida.
Devo começar por reconhecer que tenho bastas dificuldades em transmitir os meus "argumentos" de forma sintética e clara. Claro que, infelizmente, ficarei sem saber se será por essa razão que os meus "argumentos" não lhe pareceram muito "certeiros": é que de quem não quer, ou não consegue (digamos assim), perceber a contradição inerente a começar uma intervenção dizendo não querer lançar achas para uma fogueira e acabar essa intervenção sem nenhum contributo para a "fogueira" que não seja deitar uma acha (particularmente numa fogueira que só existe na sua cabeça, porventura para seu bel-prazer, ou porque tem uma ideia plebiscitária da discussão racional na blogosfera e crê que com aquele aguçado humor mimético faz bom coro de apoio, principalmente a quem de todo não precisa dele), dizia eu, de tal pessoa não se espera que perceba a contradição lógica (repito, lógica) e infeliz (ponha-se no lugar de um alemão exilado por conta do nazismo, se conseguir sair do seu umbigo) inerente a uma frase que diga que, ao falar de alemães, alguns dos quais saíram da Alemanha para escapar ao regime nazi, se ficou com vontade de invadir a Polónia (como fez, ahh, o regime nazi) - sinceramente, se infelizmente leu isto, peço muita desculpa a lf por voltar a trazer o raio da piada à liça (o nosso assunto estava, e está, de facto, encerrado). Repito este "argumento", bem entendido, já que, desprovido dos seus transcendentes poderes de exegese, não vejo que tenha produzido outro "argumento" (a suscitar a sua reprovação), argumento este que, coisa que lhe passará alegremente ao lado, felizmente não escapou a outros intervenientes da conversa.
Se maumau quiser tirar o fato de chefe de claque, que lhe fica tão bem no verbo, e discutir alguma questão séria, seriamente, nunca me recusei a contribuir para uma discussão e a colmatar a minha manifesta ignorância relativamente a contributos alheios. A esta resposta, no entanto, escusa de se investir em despiques, que eu não estarei cá para assistir ao espectáculo (só caio nessa armadilha uma vez em cada ocasião, e esta é essa vez).
Apenas lhe deixo mais uma palavra, dado que às vezes só na mesma linguagem é que certas pessoas percebem a desadequação das suas palavras. Seguindo o tom e a arguta lógica de tautologia mimética nas suas palavras, uma resposta ao seu nível, seria um conselho, este sim, gratuitamente irónico face ao seu "lapso" (e felizmente todos partilhámos de lapsos neste cantinho), que gosto de procurar seguir, mais vezes que muitas falhando, e agradecendo quando mo apontem (maumau incluído): não se fala nem de boca cheia, nem de cabeça vazia.
Se lhe deixei este paleio todo, e não só uma frase daquelas como resposta, palidamente procurando também mimetizar o seu apurado estilo, foi porque espero que tenha a presença de espírito de parar e pensar na diferença entre isso e a sua ilustre intervenção (e, na verdade, não sendo destituído para o fazer, só um jeito espertalhão, um orgulho vesgo ou uma implicância-porque-sim, o coíbirão e incitarão à desmiolada revanche), e talvez a contenção condicional de não lhe dar frase de semelhantes gabaritos como resposta dê os seus improváveis (e como tal mais meritórios) frutos. Um primeiro passo nesse sentido seria que percebesse que, a partir daqui, a única coisa que assentará bem a esta caixa de comentários (quanto mais não seja, por respeito ao seu anfitrião, do abuso de cuja hospitalidade me desculpo, com a minha eventual hiperreactividade à fina arte jogralesca que agora aqui me trouxe) é o silêncio.
Bom proveito.

Anónimo disse...

Julinho,

Num rasgo de humilde que lhe assenta bem, você afirma ter dificuldade em expressar-se de forma "sintética e clara". Por sua vez, eu tento (de forma quase obsessiva) expressar-me o mais sucintamente possível. Nem sempre o consigo. Outras vezes, conseguindo-o, destruo a clareza.

Talvez resida aí a explicação para o mal entendido. Admitamos que a frase inicial foi demasiado sucinta e destituída de clareza e, dessa forma, erradamente interpretada.

Dito isto, sinto necessidade de explanar melhor o meu raciocínio inicial.
Começo pelo excerto do seu texto, que tanta polémica provocou quando eu, talvez indevidamente, o utilizei. Acrescento um pouco mais de texto para melhor compreensão: "empregá-la no contexto de discutir realizadores alemães (...) demasiado familiarizados com invasões da Polónia e outras que tais, é capaz de não resultar lá muito certeiro (digamos assim)...". Passo a explicar.

Na tentativa (já referida como falhada) de "separar o principal do acessório", procurei cingir-me apenas à dita "piada" e ao contexto em que foi proferida. Atendendo ao contexto, não considero, de forma alguma, a sua referência como, digamos... desproporcionada. Naturalmente, em outros contextos, a "piada" poderia ser considerada como tal, mas não foi o caso. Já agora, respondendo a uma solicitação sua (onde, sem qualquer justificação plausível, me retracta como sendo etnocentrista, o que obviamente eu refuto), convido-o a colocar-se no lugar de um alemão (não judeu, não nazi, não exilado) que teve que conviver com o nazismo (ou nasceu depois disso) e continua a ser vitima de um estigma que já devia estar curado.
No entanto, o que menos me agradou na sua argumentação (sem questionar o direito à sua opinião) é a tendência fácil para a censura e a intolerância que, por vezes (sem, no entanto, crer que seja o seu caso), revela na sua génese um fanatismo em potência.

O que eu lhe garanto é que nunca tive a intenção de criticar (ou simplesmente fazer referência) ao seu "tom e trejeitos na retórica". Se por ventura o induzi nessa falácia, por causa do meu discurso (ou ausência dele), apresento desde já as minhas desculpas.

Não faço, por princípio, quaisquer criticas à linguagem com que cada qual se expressa. Isso seria desrespeitar o indivíduo e entrar no campo da provocação pessoal. Admito ser um provocador por natureza (eis uma das razões porque utilizo o 'nickname' MauMau). Posso abusar na exacerbação do discurso, como forma de incitar uma discussão de ideias mais acalorada, mas jamais visarei a provocação pessoal. Infelizmente, o mesmo já não posso dizer de si, atendendo à destreza como se pronunciou, de forma ironicamente jocosa, ao meu "mimético" discurso. Mais grave são certas deduções e acusações, sem qualquer fundamento, a uma pessoa (eu) que você desconhece por completo. Talvez possua dons sobrenaturais que lhe permitem tirar tantas ilações sobre a minha pessoa, através de uma frase que nem sequer é minha...

Creio não ter sucumbido à tentação da provocação fácil e despropositada à sua pessoa. Limitei-me a contrapor. Levo a blogesfera demasiado a sério, não pelo discurso, mas por respeito ao indivíduo que está do outro lado.

Julinho disse...

Caro maumau,
para que não haja mais qualquer margem de equívocos neste diálogo (agora sim), deixe-me dizer que foi com gosto que li esta sua intervenção, e daí decorre ser avisado pré-esclarecer que, volvendo a debruçar-me sobre as questões e palavras que nos trouxeram até este ponto, as palavras que se seguem não contêm a menor réstia de acrimónia, ironia ou provocação.
Deixe que comece por lhe dizer que discordo da sua apreciação das suas palavras, e é da minha parte isso que estará na base do relativo desentendimento que, espero, estará breve saldado. No contraponto da minha verborreia, que poderá suscitar equívocos, a verdade é que não deparei, na sua primeira intervenção, com apenas a sua inclinação sintética, que teria deixado os seus argumentos pouco claros para mim também. Na verdade, mesmo que concedendo que pode ter sido uma intervenção meramente jovial, as suas palavras surgiam após uma discussão relativamente loquaz, já finda, e continham não mais que a expressão de uma discordância face ao que supostamente eu defendera (não explicitando o como nem o quê), discordância essa apenas expressa numa curta frase finalizada (aliás, metade composta) com a finalização idiomática da última frase da minha primeira intervenção (de facto, agora sem provocação, mimetizando-a). Pode ser limitação ou superavit semiótico meu, mas, ainda depois desta sua esclarecedora intervenção, eu não leio naquela primeira frase nada mais que uma provocação, jocosa, e, pela sua composição, dirigida ad hominen (pode bem ter tido em mente todos os argumentos que agora explanou, ao escrevê-la, mas nas palavras da mesma convenhamos que eles não estão lá implícitos, como que aoenas à espera de bom entendedor). Para mais, a leitura que faço, agora sim, da sua discordância face aos meus "argumentos", apenas reforça a ideia de que não se tratou de mais que um espicaçar. Vejamos: relativamente à dita piada, aquilo que enfim desenvolve como sendo a sua opinião, vai precisamente no mesmo sentido de todos os meus argumentos (até quando os não reconhece), excepto num eventual pormenor. Pelo que expressa, concorda com a efectiva contradição lógica e infeliz (são para mim os termos precisos) da frase, pois até a reforça, generalizando-a, mencionando o peso histórico que a associação com o nazismo tem sobre toda a população alemã - e nesse particular, se não reparou, era escusado convidar-me a pôr-me no lugar de um qualquer alemão (qu'isto não é só para a elite artística) que ainda hoje tem que viver com o peso desse estigma, porque foi precisamente essa generalização que eu fiz na minha segunda intervenção, relacionando a facilidade de se fazer tal piada com o facto de toda a nacionalidade alemã carregar com o peso da associação ao nazismo e anti-semitismo.
Daí, só resta uma única coisa em que manifesta alguma possível discordância relativamente aos meus famigerados argumentos. Esse ponto é o de eu ter feito questão de fazer um reparo à piada, e o de você achar que tal seria desnecessário "naquele contexto" (apesar de afinal concordar com a lógica da minha leitura da piada). Relativamente a isso, esclareço a minha posição: se me diz que em certos contextos esse cuidado no discurso seria justificado, mas não no contexto em que estamos, presumo que seja porque supõe não ter impacto nenhum sobre quem o leia (o que é uma suposição provável, mas nada infalível - está visto... ainda que não seja por eu me ter tocado pessoalmente, o que para mim não é critério para legitimar a intervenção, mas se fosse, quem lhe garantia a si que na minha história pessoal a questão não me ofendesse?...). Eu respondo-lhe (e repito-me, mas posso não me ter feito entender antes) que se sem dúvida não podemos estar constantemente a policiar o nosso discurso, não quer dizer que não procuremos assinalar e corrigir as generalizações e associações injustamente pejorativas de que nos demos conta (e que fazemos persistir ao repeti-las voluntaria ou inconscientemente), porque ter como factor de filtragem do nosso discurso o "se ninguém - que interesse ou se ofenda - nos está a ouvir, não faz mal" parece-me não só ser bastante falível, como eticamente muito discutível (claro que esta fórmula parece sugerir que há uma implícita intenção daninha, mas não é isso de todo que quero sugerir se tenha passado, ou que você esteja a sugerir). E isto é uma atitude analítica que em nada deriva de uma vontade de politicamente correcto: por exemplo, é-me claríssimo que o conceito de etnia é hoje muitas vezes instrumentalizado de forma politicamente correcta para manifestar lógicas racistas de discurso social, tal como o discurso do multiculturalismo foi utilizado por Le Pen para defender posturas politicamente xenófobas. É deste tipo de atenção às consequências das nossas palavras (conscientes ou não) que a minha preocupação com o discurso deriva, não de uma qualquer frivolidade ou obsessão policial politicamente correcta, fique entendido (e é preocupante ter que chegar a este ponto para explicar o sentido da minha primeira intervenção, obviamente que nada, mas nada, comparável a este tipo de exemplos). Mas mais central, e mais escondido que isso, será na base desta sua opinião que suspeito esteja o verdadeiro foco de discórdia, que o levou a manifestar-se da primeira vez da forma como o fez. Esse foco, bem me parece, é o que agora afinal caracteriza como a minha inclinação para “a censura e a intolerância”. E compreendendo eu bem que, ao depararmos com o que julgamos ser tal inclinação, nos salte com facilidade uma insubstantiva manifestação que reza evasiva e implicitamente não mais que “eu não concordo com este tipo e o que ele diz irrita-me”, compreenderá também (porventura) que eu me toque muito com estas suas palavras. Isto porque, francamente, apesar de fazer o favor de me resguardar do “fanatismo”, a sinalização de qualquer censura ou intolerância da minha parte, devo dizer-lhe que não só é, em boa verdade, a única “ilação pessoal” a sério (e muito a sério) que se recolhe de todas as nossas palavras (há-de reparar com atenção), como a acuso de ser profundamente injusta não só quanto aos meus argumentos mas quanto às intenções que tornei muito explícitas na defesa desses argumentos. Repito-me mais uma vez, mas aqui parece-me vital: acho que as palavras têm peso e consequências, e que devemos assumi-lo, caso contrário não há entendimento, respeito ou responsabilidade pessoal possíveis. Essa convicção guiou a minha intervenção, e neste particular (e aqui vai também ao galheiro a humildade), não procedi senão com a maior lisura, resguardando os indivíduos de juízos pessoais que poderiam ser suscitados pelo emprego de formulações socialmente discutíveis, não me admitindo presumir derivar tal das suas intenções. Não pretendi calar ninguém (onde está a “censura”?), não qualifiquei moralmente ou de outra forma como nada perto de inadmissível quaisquer palavras (onde está a “intolerância”?), senão não usaria de suave ironia, mas apenas chamei a atenção para um sentido discutível de uma frase, e o seu efeito de reforçar uma assumpção discursiva socialmente perversa (o tal estigma alemão de que se não coibíu, e muito bem, de falar). Se não acho que seja possível, eficaz ou desejável (porque não traduz as intenções dos indivíduos) policiar o discurso em busca de tudo o que seja estereótipos, generalizações e associações pejorativas para grupos e categorias sociais, o facto é que a emergência da consciência dessas armadilhas discursivas nos agudiza a percepção para certas fórmulas socialmente perversas, e nesse sentido, fazer de conta que não nos apercebemos, ou que é matéria inconsequente, considero que seja uma irresponsabilidade que compactua com a persistência dessas representações. É não só irresponsável, como provavelmente hipócrita: se esta fosse uma questão mais visível e candente, como uma questão racial, duvido que estivéssemos a ter esta conversa para saber se era legítimo ou não assinalar uma frase infeliz (ainda que os critérios de tal avaliação variem, e tudo bem). O que a sua perspectiva, no limite implica, é que tudo o que não seja uma atitude de pura indiferença às palavras e opiniões dos outros constitui “censura”: como se a opinião fosse livre, mas já não a opinião sobre outras opiniões, como se as opiniões não surgissem precisamente em interacção. Ora, se com todas as minhas cautelas (que não poderiam ser mais) de não censurar ou fazer juízos sobre ninguém, não posso eu também exprimir-me relativamente ao sentido das palavras de outrém, lamento, mas então é a mim, e a quem queira debater qualquer questão discursiva mais ou menos subtil e suas implicações (sem amordaçar ninguém, mas sem olhar para o lado), que está a querer “censurar”.
Finalmente, considerando que o que li, e ainda leio, das suas primeiras palavras, foi de facto não mais que uma provocação dirigida, por jovial que fosse (e ninguém pode adivinhar as intenções de outrém), espero que não venha a terminar de ler as minhas palavras cometendo-me a injustiça de pressupôr que outorgo à partida menos respeito a quem está do outro lado que você.
Respeito pelo outro implica respeito pelas suas palavras, para mais neste meio que delas depende, o que implica responder-lhes, se for o caso, com a justeza devida às proposições e intenções que demonstram. As suas palavras, já expliquei, continuo a achar que eram exclusivamente provocatórias, e pelo que leio agora da sua opinião face à única coisa que tinha então manifestado, que era a discordância face aos meus argumentos, nem isso as sustentava. Falando sério, nada no panorama dessa sua intervenção se pauta propriamente pelo que quer que se conceba como respeito pelo outro: pode defender não ser essa a sua intenção, e eu posso concordar, mas das intenções ao verbo vai um passo demasiado largo para descuidar - talvez daí a minha loquacidade, ou porque duvido encontrar questões que se resolvam ou discutam em poucas linhas. Daí resulta, não como desculpa para mim (não estou a fazer comparações ou justificações num jogo de soma nula), mas como compreensão, que as palavras da minha primeira resposta a si, desde logo anunciadas como ácidas, as quais neste momento não hesito em retractar, e pelas quais lhe peço desculpa se se der o caso de no fim desta leitura continuar a sentir que lhe causam dano, são obvia e explicitamente proferidas como resposta a uma provocação: não lhe foram dirigidas a si enquanto pessoa mas à cara provocatória que foi a única que as suas palavras envergaram. E nessa lógica (e posso parecer-lhe cínico ou com menos honorabilidade na admissão das minhas faltas ao dizer-lhe o que se segue, mas é a verdade que também tenho das minhas intenções), a verdade é que tais palavras surtiram o efeito que mais desejava: surgir a pessoa por trás da "máscara". É verdade que iam imbuídas de dois ou três espigões que, embora não pretendessem ofendê-lo, mas apenas provocá-lo em retorno, compreendo que em ofensa resultassem (e por tal, mais uma vez me desculpo, que as faltas, mais uma vez, não se ilibam só pelas intenções). Mas se tiver a bondade de as olhar descomprometidamente, creio que é claro essa provocação não seguia gratuita (aliás, reparará que quando ponho cara séria nesse discurso, nego claramente as provocações iniciais), e que esses espigões iam acolchoados num arrazoado que pretendia tornar muito límpido que por baixo da assumida troca de provocações poderia e deveria muito bem, e com muito mais proveito, decorrer uma troca de palavras serena, racional e respeitosa, e que seria nesse registo que, apesar de ter ressentido a sua provocação (como agora ressentiu a minha), teria todo o gosto em dialogar consigo... como o faço agora. Dito de outra forma: sucesso.
Poderá considerar que os meios não justificavam os fins, poderá duvidar da minha honestidade, poderá achar que me justifico com jogos discursivos, ou mais certamente, sabendo-se criatura razoável (coisa que eu só posso saber agora), dizer que bastava uma resposta sem toque de provocação para chegarmos a entendimento. Face aos dados que tinha, nesta altura do campeonato, creio que o "choque" de provocações com um apelo à razão on the side não resultou mal, e que, se nenhum ego nem respeito mútuos saíram lesados (espero que não), toda esta troca de palavras pode resultar mais que esclarecedora, frutuosa, porventura pedagógica, quanto às nossas formas de expressão. Concorde ou não, espero, para a minha tranquilidade (estranhe ou não, a verdade é que em mim a acidez doesn't come naturally), que não enjeite os meus cumprimentos, e acordando na bondade mútua das nossas intenções, se assim for (até porque os frutos destas discussões apenas tendem a emergir como estímulos à mais honesta reflexão individual), nos quedemos educadamente por concordar em discordar (desde que sem “censura” de parte a parte).

Anónimo disse...

"tais palavras surtiram o efeito que mais desejava: surgir a pessoa por trás da "máscara"."
como breve comentário, também foi isso que me pareceu, não sem alguma alegria da minha parte, pois sei que o maumau é afecto a discussões acaloradas de esgrima de opiniões.
e prémio para o julinho, que acabou de arrebatar o título/record de comentário mais comprido (mas leia-se não monótono) aqui das caixas do (eter).